Wednesday, February 13, 2008

Baú (II)

Isto passou-se numa cadeira minha no IST. Depois de um primeiro exame cujo único propósito era chumbar os alunos, o ilustre professor da cadeira teve a feliz ideia de nos enviar este documento. Um "grande" pedagogo este senhor! Para recordar:

COMO CHUMBAR NO 2º EXAME DE IRT
Conselhos sábios de um professor com muita experiência da vida a alguns alunos ainda à procura do seu posicionamento na mesma.
  1. Não tocar num livro ou outro elemento de consulta entre agora e o dia do exame. É o método mais eficaz e o que dá menos trabalho.
  2. Estudar só as transparências colocadas no site da cadeira. Tem resultados garantidos, mas dá mais trabalho que o anterior.
  3. Além de 2., estudar as resoluções dos problemas das aulas generosamente disponibilizadas pelos colegas dos anos anteriores, algumas das quais apresentou na aula respectiva enquanto ainda estavam frescas na memória mas entretanto esquecidas. Ainda dá mais trabalho que 2., mas garante resultados quase tão bons.
  4. Além de 3., estudar as resoluções do todos os problemas e questões dos últimos dez anos, mesmo daqueles anos em que a matéria era completamente diferente. Dá um bocado mais de trabalho que 3., com o problema de ser difícil encontrar colecções completas de resoluções. A sua eficácia é contudo aumentada(*) pela fixação do professor da cadeira em só tirar dúvidas sobre um problema depois de se assegurar que o aluno estudou e percebeu a matéria respectiva no livro. Para os problemas dos exames mais antigos consegue-se às vezes encontrar umas resoluções feitas por ex-colegas que já poderiam ser seus pais, e portanto dão uma certa sensação de segurança paternal. Estas resoluções ajudam um bocado aos objectivos, visto algumas delas estarem cheias de erros. Os resultados não são tão bons como os de 3., mas ainda se consegue chumbar com probabilidade de 75%.
  5. Estudar o livro, fazendo resumos para separar os 75% de palha dos 25% essenciais, assegurando-se que se percebe os conceitos, repetindo autonomamente as figuras e diagramas associados a conceitos e modos de operação, resolvendo autonomamente os problemas e questões de fim de capítulo e das aulas de problemas, interrogando-se acerca de alternativas às formas de implementar as funções dos sistemas estudados e estabelecendo as ligações possíveis entre cada tópico e os outros. É o método mais ineficaz, dando muitíssimo mais trabalho que todos os outros juntos e com resultados geralmente maus. Consegue-se colmatar esta desvantagem fazendo o esforço adicional, na altura do exame, de não escrever nada na folha respectiva. Representa um risco considerável, pois às vezes adquire-se formação significativa, o que é uma chatice porque se fica em situação menos desfavorável face à competição estrangeira na aldeia global, e arrisca-se a ficar registada na certidão de cadeiras uma nota elevada, o que traz claras desvantagens face aos outros colegas na altura de procurar emprego.

Lisboa, 7 de Julho de 2005

(*) Especialmente quando só se dá conta disso na aula de dúvidas imediatamente anterior ao exame.

[EDIT]
Resta acrescentar que este professor era um péssimo professor. Não mostrava dominar a matéria, não era minimamente disponível para os alunos e portanto, não obstante o sarcasmo que até tem piada e a razão que encontramos no texto, não estava no direito de dar lições destas. Há bons e maus professores. Os bons, entre outras coisas, merecem e têm o respeito dos alunos, as suas palavras são ouvidas de outra forma. Este queria ser respeitado apenas porque era a pessoa de pé na sala de aula.

Low Rider

3 comments:

Rik said...

Atesto a veracidade da história que eu fiz a cadeira nesse ano... não se trata de mais um boato lançado por alguém :D

Anonymous said...

Humm... desculpem lá, mas não estou em sintonia convosco.
Nunca andei no IST nem conheço o indígena que escreveu isso; no entanto posso afirmar, depois de ter lido o texto dele:

1 - o conteúdo está correcto pois pinta a realidade da vida nas universidades, tal como eu a conheci (e rejeitei) à 10 anos atrás; é claro que é uma generalização, e como tal injusta para uma minoria; no entanto, não era a minoria que ele queria atingir com a mensagem.

2 - o sarcasmo e ironia utilizados eram talvez abusivos e certamente ofensivos; no entanto, consistiram numa ferramenta bem utilizada, pois certamente a mensagem seria de outra forma ignorada, o que não aconteceu com o texto dele - antes pelo contrário, toda a gente leu e muitos sentiram a "picada"... daí a resposta emocional dos mesmos. Como eu costumo dizer, "Só se pica quem tem alfinetes!!". Portanto, "dou-lhe um 10/10", como diria o Rik em relação a outras coisas ;) .

Fosse eu professor, e praticasse a pedagogia correcta anos a fio sem resultados positivos (por via da preguiça dos alunos), e talvez também um dia explodisse dessa maneira.... :P

Como aluno, sempre me chocou o facto de os meus colegas verem as aulas e os trabalhos/exames como uma chatice (em vez de uma oportunidade) e os professores como inimigos (em vez de fontes de oportunidades). Dá deus nozes a quem não tem dentes... e há tantos desdentados na(s) nossa(s) gerações!!!!

Low Rider said...

(Edit do post)