Thursday, December 13, 2007

Os referendos e a democracia em Portugal

Mais uma vez o dia-a-dia político nacional confronta-se com mais uma, na minha opinião, questão inútil. Como diria Hamlet se perante esta situação: referendar ou não referendar? Não referendar é a minha opção. Sou contra referendos e destaco para isso duas razões:
  1. A Assembleia existe para legislar: os deputados foram eleitos para legislar, seja sobre o tabaco, o aborto, a Europa ou sobre um simples decreto-lei. Nós (os eleitores) e os eleitos temos de ter noção desse facto e ter isso em conta nas eleições legislativas.
  2. O insucesso dos referendos no modelo Português de democracia. O povo não quis tomar posição em nenhum dos referendos até hoje e a abstenção foi, sempre, muito maior do que os valores alcançados em quaisquer outras eleições.
Não quero com isto dar uma ideia de que tudo se resolveria sem referendos, nada disso. Acho que a democracia, enquanto instituição, falha. E quando digo enquanto instituição, refiro-me à sua parte física: o parlamento, os tribunais e o governo. Os tribunais são lentos e os governos não reunem, na maior parte das vezes, pessoas capazes de gerir o seu orçamento familiar quanto mais um país. Finalmente, mas não menos importante, o parlamento não está próximo do povo. Não sabemos quem nos representa e, caso saibamos, não sabemos como chegar até essa(s) pessoa(s). Acredito numa democracia diferente. Acredito numa democracia em que cada cidadão sabe quem o representa e sabe como interagir com esse representante, em que o parlamento mais do que uma sala imensa, muitas vezes vazia, é um mercado de ideias que podem nascer dentro e fora do hemiciclo. Mas também sei que Portugal não está preparado para isso. Durante séculos o povo viu-se afastado das decisões e apenas num lugar de revindicação após essas decisões tomadas (frequentemente nem isso) e as sociedades não se mudam em uma ou duas gerações, pelo menos a sociedade portuguesa. Mas nasce aqui um ciclo vicioso, é que na cabeça de muitos jovens com valor repete-se a pergunta? Para que vou eu entrar na política se a política é como é? Só vejo uma solução: muitos pioneiros bem intencionados têm de arriscar. Sim, eu sou dessa geração que pode arriscar. Sim, tenho noção disso, não sou hipócrita. Mas admito: como muitos outros não sei se quero arriscar.

Low Rider

5 comments:

Rik said...

Com certeza tiveste contacto na faculdade com a malta que enveredou pela política... é natural que tenhas ficado desanimado :D eu também fiquei

A.T. Pereira said...

A pol�tica, tal como muitas outras coisas, espelha as pessoas que a fazem.

Dizer que tudo est� mal na forma como o pa�s � conduzido, resmungar que os pol�ticos s�o pouco honestos e que a forma de fazer pol�tica � pouco leal e que tudo se passa num meio sujo � f�cil. E nem sempre corresponde � realidade.

N�o h� paci�ncia para revolucion�rios e oposi�o de mesa de caf�.

Anonymous said...

Tu és é parvo.... um coche!

Unknown said...

Também voto em não referendar! Qualquer dia há um referendo sobre o referendo... pelo que vejo também só pede referendo quem é "do contra". Até os sindicatos (essas entidades sempre do contra que parece que não sabem que não são partidos nem têm afiliação política) pedem o referendo...

Low Rider said...

Sim. Basicamente a ideia é essa. Por exemplo, o PCP não queria referendo para o aborto porque achava que quem deve legislar é a assembleia e agora quer... :S